Não sei escrever. E nunca fui muito boa em falar, por isso achava mais fácil falar escrevendo, mas continua difícil, não sei me exteriorizar, fica tudo guardado.
Esses dias não sei porque ao certo, mas escorreram algumas lágrimas quando eu lia um texto da Clarice Lispector, ela conseguiu exteriorizar a falta de palavras em palavras, fiquei sem reação (como em quase todas as vezes) por encontrar alguém que passa por processos semelhantes aos meus. Acho que eu sempre tive essa tendência: de me empolgar com pessoas que penso que são parecidas comigo e me entendem sem dizer a elas.
Fico me perguntando o que eu tenho feito com meus dias, quais são meus sonhos, e até onde eu devo sonhar. Quanto mais eu cresço, mais descubro que existe uma realidade que me limita, e eu devo deixar? Devo ir sendo ou devo ter alvos?
A Clarice falava sobre isso, sobre a desorientação. Em como ela sempre precisava de uma finalidade para tudo que iniciava, e em como ela precisava deixar as coisas organizadas mesmo sabendo que talvez tudo fosse uma mentira só pra que se sentisse segura.
E derepente ela se vê diferente, ela se vê de verdade, e se encontra em meio a uma desorganização da qual ela não sabe lidar, poque ela sempre quer respostas pra tudo, e então ela se questiona o porque do seu medo de ser levada, de viver o que não entende, de se guiar pelo que for acontecendo.
Nesse meu momento de estar perdida, assim como a Clarice no seu momento, eu quero ter a coragem de me deixar continuar perdida, apesar do meu medo de viver o que não entendo. Porque são muitas as coisas que eu encontro quando eu paro de olhar só para um lugar, quando eu paro de confiar em mim, quando eu paro de ter a sensação que tudo está no seu lugar.
Acho que eu não sei escrever porque não tem como diminuir o que quero dizer, porque todas as coisas que quero dizer envolvem todas as outras do universo e levaria todo o tempo do mundo. Por isso fico desorientada, pq não sei por onde começar, se deve ser dito, e se termina.
E então, fica assim, sem terminar... sem dizer.