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Minha busca, assim como a da maior parte dos seres humanos, é por respostas.
Minha busca, assim como a da maior parte dos seres humanos, é por respostas.
Identifico-me com as respostas trazidas pelo sociólogo Zigmunt Bauman a partir de reflexões sobre a sociedade contemporânea na qual não mais se procuram meios para alcançar os fins dos objetivos próprios, mas a vida se consome na definição dos objetivos. O sociólogo diz também que “as pessoas passam a vida em busca de um objetivo como se tivessem em mãos a solução do problema, mas encontram-se ofuscados a procura do problema”. As pessoas possuem capacidades e qualificações necessárias para alcançar qualquer fim desejado, contudo, não sabem o que desejam, não têm um alvo certo.
No entanto, apesar da busca desenfreada por respostas que solidifiquem nossas crenças e valores, parece-me, que poucas pessoas desejam realmente obter respostas. Poucos são os que desejam ser libertos. Quanto mais a verdade se exibe a mim, mas ela me exige. Enxergar acarreta mais responsabilidades e posicionamentos que fingir procurar pela verdade. Respostas libertam, mas a liberdade custa caro. Custa mudanças. Custa desequilíbrios. E então concordo com Clarice Lispector no seu texto sobre “o medo da libertação” (1999), que retrata a prisão como um local seguro, protegido, e poucos são os que têm coragem de se desprender dessa segurança, desse sistema vazio de sentido, e se “desenformar”, vivendo fora das regras, padrões e imposições. Sennett em seu ensaio feito em 1998, disse que o sistema capitalista criou rotinas a todos os indivíduos, e que essa rotina, por mais que possa nos apequenar, ela tem o potencial de nos proteger. E parece que faz parte de nós o sentir-se protegido, mesmo que isso custe a nossa própria libertação.
A aparente liberdade que nos é apresentada a cada dia, faz com que estejamos satisfeitos com o que nos cabe, não com o que de fato é essencial. Recordo-me assim da frase tão sincera de Antoine de Saint-Exupéry (O Pequeno Príncipe, 1943) que expressa o essencial como aquilo que é invisível aos olhos, conceito tão antagônico com nossa realidade que visa o material como meio de suprir necessidades.
Sim. Vivemos na escravidão com a aparente sensação de sermos livres e, era essa a ameaça que desde cedo atormentava o coração dos filósofos: que as pessoas pudessem simplesmente não querer serem livres e rejeitassem a perspectiva da libertação pelas dificuldades que o exercício da liberdade pode acarretar.
Em meio às implicações e desafios de viver na sociedade contemporânea, que preza por relações superficiais e flexíveis, em que tudo é volátil, sem consistência e estabilidade, o sociólogo Bauman apresenta essa sociedade moderna sob um aspecto líquido, sem forma fixa, pois mudaram as formas de pensar, rompendo com o tradicional e privilegiando a individualismo. Na modernidade, praticamente todos perdemos nossa solidez, adotando um tom circense frente a um público cheio de vaidades, que passam a vida a encenar com a impressão de que são os artistas principais, quando na verdade, podem ser denominados “atores sem papel”.
É sob esse contexto que Sennett (1998) trata das atribuições que as novas relações de trabalho trouxeram para o indivíduo, e como isso alterou profundamente os valores pessoais e morais da nossa época. Em meio ao capitalismo flexível, as pessoas sofrem da dificuldade em construir caráter sólido, pois as metas já não são estabelecidas à longo prazo, não se tem tempo para consolidar relacionamentos, sendo que só podemos definir quem somos, o valor que temos na medida do tempo, dedicando tempo.
Frente a essas novas questões, o medo é que essa geração que muda o tempo todo se esqueça da realidade a qual pertence, ficando a deriva de si mesmo. Consequentemente, o caráter humano se corrompe de forma intensa e talvez, irreversível, condenando a todos a uma existência sem sentido. Uma sociedade de discursos magníficos, mas cheia de pessoas vazias. Liberdades fingidas, falsas certezas e supostas auto-satisfações.
Faço parte desta época, e não posso fugir dessa realidade. Também estou impregnada por esses conceitos líquidos e volúveis, embriagada de medos de não me conformar as formas desse sistema e não ser aceita pelas pessoas. Porém, finalizo do mesmo modo que Clarice Lispedtor finalizou seu texto sobre o medo da libertação:
“...calculo o que seria se eu perdesse totalmente o medo. O conforto da prisão
burguesa tantas vezes me bate no rosto. E, antes de aprender a ser livre, eu
agüentava – só para não ser livre” (A Descoberta do Mundo, 1999).
Por hoje, eu não agüento.
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